sexta-feira, 3 de julho de 2009

Revendo Planeta dos Macacos

As pessoas que conhecem um pouco sobre mim, já devem ter ouvido eu mencionar meu apreço por essa obra em especial. Foi engraçado, re-re-re ver (nem sei se a palavra existe , mas vamos "caetanear") esse filme depois de uns três anos. A última vez que o vi, tinha outra namorada, outro emprego, menos tempo, mais estresse e menos paciencia. Antes disso, vi o filme quando era mais novo (na época do colegial, se não me engano), e havia me apaixonado. Quando vi novamente, fiquei "brochado" . Não sei, alguma coisa não funcionou.

Ontem, as coisas funcionaram de novo. E foi lindo.

Voltou a ser o meu sci-fi favorito (sim, gosto mais desse do que de 2001, Fahrenheit, Alphaville, Star Wars, Star Trek ...), e pelos motivos mais óbvios possíveis. A história. Os personagens.

Toda vez que algum filme te faz pular da cadeira, te da vontade de contar pra todo mundo sobre, pode ter certeza que o que fez você se apaixonar, foram os personagens e a história.

Acho que boa parte das pessoas a conhece, mas não custa relembrar. Trata-se da história de um astronauta (Taylor) que sai em uma missão espacial e sofre um acidente caindo em um planeta habitado por macacos inteligentes e dotados de fala, cultura e civilização.

As relações "humanas" entre o nosso herói (vivido por um Charlton Heston, despido de qualquer vaidade de "super-estrela") e os chimpanzés e cientistas Dr. Cornelius (Roddy McDowell) e Dra. Zira (Kim Hunter) são o melhor do filme. Nos meio de toda a discussão implicita sobre preconceito, respeito as diferenças e sobre crescimento evolutivo, ainda se encontra uma bela aventura, com sequencias de ação bem orquestradas (a primeira em especial, quando Taylor e seus companheiros astronautas sobreviventes são supreendidos numa plantação de milho, e fogem pelados somente para serem capturados pela horda de gorilas a cavalo, ainda é impactante).

As questões sociais, mesmo que veladas, fizeram esse filme não envelhecer, e se tornar (ainda hoje) bastante atual. A trilha sonoroa de Jerry Goldsmith é estupenda, e o uso de instrumentos exóticos. como a nossa cuíca por exemplo, nos fazem embarcar nessa verdadeira viagem a outro planeta.

E como não falar de Dr. Zaius (vivido com classe por Maurice Evans), que simboliza a burocracia, a dificuldade de compreensão e o medo do diferente. Notem a clássica cena dos macacos no julgamento, quando Zaius e os outros dois tribunos imitam a famosa piada do macaco, onde um não ve, outro não ouve e outro não fala.

Zira e Cornelius por sua vez, simbolizam a nova ordem. A geração da Era de Aquarius, ou qualquer outra coisa relacionada a geração flower-power. Eles são jovens, inquietos, questionadores e não tem medo de lutar pelo que acreditam. Roddy McDowell , como Cornelius, encarnou O pesonagem de tal maneira, que ficou impossível não associa-lo a franquia (Roddy estrelou mais 3 filmes da cine-série dos macacos). Kim Hunter , como a Dra. Zira, nos dava o olhar "humano" ao filme. Não é dificil nos identificarmos com ela. Kim, "comeu" o personagem e transformou a cientista chimpanzé em seu trabalho mais popular (sim, eu sei ... ela estava em Bonde Chamado Desejo e sim, esse foi o seu trabalho mais importante) e uma ícone pop.

Mais tudo isso seria nada, se novamente, a história não fose boa. O roteiro enxuto de Michael Wilson e de Rod Serling (mais tarde criador da série Além da Imaginação) é ótimo. Tudo no lugar, sem arestas e muito fluído. Costumo dizer, que o filme é bom, quando você fica sentado por duas horas numa cadeira e sua bunda não dói. Esse filme não me fez sentir nenhum tipo de formigamento, graças em boa parte a excelente condução da história.

E finalmente, Franklin J. Schaffner, que até então tinha feito (em termos de sucesso comercial) apenas um filme de impacto. O bom, O Senhor da Guerra, com Charlton Heston. Depois veio a dirigir, Patton, Papillon e os Meninos do Brasil. Sua direção é segura, e é tecnicamente irrepreensível. A maquiagem é revolucionária e John Chambers (designer executivo e criador do conceito) recebeu um Oscar honorário pelo brilhante trabalho.

E... não podemos deixar de lembrar sempre ... da cena final. O pai dos finais supresa, e na minha opinião o melhor deles. A experiência de ver pela primeira vez, a estátua da Liberdade enterrada no fim da praia, toda corroída, é de arregalar os olhos, respirar fundo e soltar um sonoro "what a fuck". É O final. É A conclusão mais simbólica e arrebatadora do cinema de ficção científica. É acida, é cruel, e é perturbadora. A noção de que nós, seres humanos, fomos os responsáveis pelo fim de nossa própria civilização, na época chocava e alarmava e hoje é mais uma possível realidade.

Não percam mais seu tempo lendo esse post. Assistam.

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